Um policial civil negro denuncia ter sofrido racismo em uma agência bancária do Guará, no Distrito Federal. José Maria de Oliveira Mendes, de 55 anos, conta que foi impedido de entrar no banco por estar armado, mesmo após apresentar distintivo e identificação, e o acesso só foi liberado após a chegada de um outro policial, branco.
O caso ocorreu no dia 11 de novembro, em uma agência do Santander, na QE 7, do Guará. A ocorrência foi registrada na Polícia Civil e é investigada como discriminação racial (veja mais abaixo).
Segundo o policial, ele foi até a agência com a companheira para fazer uns pagamentos, mas não conseguiu passar pela porta. “Minha esposa adentrou o banco pela porta giratória. Quando tentei entrar, fui travado”, disse.
“Foi um constrangimento tão grande, tão grande. Uma coisa inaceitável”, afirmou
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Em nota, o Santander negou discriminação e informou que a checagem demorou 10 minutos. Além disso, o banco disse que “realiza procedimentos de segurança específicos para a entrada de clientes que se identificam como oficiais armados”.
José conta que, após o detector de metais travar a entrada, ele mostrou o distintivo e a documentação, mas, mesmo assim, não conseguiu entrar. “Estava certo, sou policial, tenho porte [de arma] e apresentei a carteira à segurança”, contou.
Mesmo com a negativa, o policial disse que atendeu o pedido da equipe de segurança e ficou do lado de fora, porém, depois de 10 minutos de espera, ele pediu explicações aos funcionários. “Me informaram que precisariam de uma autorização da equipe de segurança de São Paulo”, disse.
Em seguida, José acionou a Polícia Civil. “Quando chegou a viatura, o policial que chegou, por incrível que pareça, era branco. E sabe o que aconteceu? Ele entrou na agência, conversou com funcionários, e me liberaram”, contou José.
O policial civil contou ainda que questionou o motivo de ter sido informado que precisaria de uma autorização de São Paulo para entrar na agência, já que houve a liberação dele após a chegada de outro policial, branco. Para ele, o que ocorreu “foi preconceito”.
Policial civil José Mendes diz ter sofrido racismo em agência bancária, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
A Lei Federal nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, prevê porte de arma de fogo para policiais, mesmo fora de serviço.
Denúncia
Após o episódio, José registrou ocorrência na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin). O caso passou a ser investigado como “discriminação racial“, que é um crime inafiançável e não prescreve (veja mais abaixo).
Fachada da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial (Decrin) no DF — Foto: Agência Brasília/Divulgação
A delegada à frente do caso, Ângela Maria, informou que a vítima e testemunhas foram ouvidas e que a investigação prossegue “buscando provas para elucidar a autoria a fim de responsabilizar os culpados”.
“Ninguém faz o preconceito racial às claras, mas a atitude tácita está por baixo, velada, e isso é o que dói mais”, comentou a investigadora.
BY: CARINE TEIXEIRA