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Seca e queimadas no Cerrado em pleno novembro

O Cerrado está significantemente mais seco. De acordo com uma pesquisa feita pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), publicada este mês, houve redução de até 50% na quantidade de chuvas nos meses de estiagem nas três últimas décadas no centro-norte do Cerrado. Por ser um período onde são esperadas precipitações intensas, o cenário atual de seca intensa no Distrito Federal está causando preocupações. Para destacar informações importantes e explicar quais fatores levaram a essa desestabilização, o ambientalista e comunicador Thiago Ávila orientou na construção desta matéria.

A seca em novembro no Cerrado é uma quebra de expectativa para muita gente, pois o conhecimento popular em relação a esse bioma é que ele é caracterizado por ter 6 meses de seca e 6 meses de chuva. Novembro é um período de precipitação elevada e que não costuma passar por períodos de secas prolongados. Porém, a falta dessas características neste mês está assustando muita gente, com razão. A falta de chuva nesse período gera impactos severos sobre a biodiversidade do bioma, que é estruturado na dinâmica de seca em metade do ano e umidade no restante do ano. “Além disso, gera um déficit na recarga dos lençóis freáticos, consequentemente na recarga dos aquíferos e das nascentes que vão formar córregos, ribeirões e rios que depois vão abastecer as principais bacias hidrográficas do país”, destaca Thiago. Todas essas alterações causam muitos impactos negativos à população, a seca intensa e prolongada no Cerrado gera problemas de saúde, principalmente em pessoas em grupo de risco.

É muito importante ressaltar os processos ecossistêmicos pelo qual o Cerrado passa, uma vez que impactam de forma intensa na vida da população e de toda a biodiversidade de todo o nosso continente. O Cerrado é considerado a “caixa d’água” do Brasil, pela dinâmica das suas árvores, do seu solo e das suas plantas que são orientadas para fazer a recarga hídrica, receber a água da chuva e infiltrar no solo. Se não houver água através das precipitações, não tem as recargas hídricas necessárias e isso prejudica toda a dinâmica hidrográfica do país e dos territórios vizinhos. “Bacias hidrográficas que nascem no Cerrado chegam até a Argentina e o Uruguai, por exemplo. É importante considerar o papel que o Cerrado cumpre nessa dinâmica”. Parte das nascentes do bioma vão para a bacia do rio Amazonas e para a bacia do Rio São Francisco.

Sobre as razões para o aquecimento e falta de precipitações no Brasil, Thiago explica três fatores determinantes. O primeiro seria uma corrente e ar seca “estacionada” no Brasil que, neste momento, está afetando mais de 1100 municípios, levando a temperaturas recordes em várias regiões do Brasil. Isso é agravado ainda mais pelo fenômeno do El Niño, o segundo fator que deve ser levado em consideração. Esse fenômeno se resume no aquecimento das águas do Oceano Pacífico e impacta a temperatura no planeta inteiro. Isso acontece, em média, a cada cinco anos e, neste momento, está causando um efeito muito significativo no mundo e, de forma destacada, no Brasil. A ebulição climática, como terceiro fator para o cenário atual de seca, faz com que os dois primeiros sejam ainda mais potencializados. O aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera gerou como consequência a emergência climática percebida atualmente. “Já estamos mais de 1.1º (grau) acima da temperatura média global antes do período pré-industrial”, alerta Thiago a partir das observações.

Entre todos os biomas continentais brasileiros, o Cerrado representa o segundo maior bioma nacional, ficando atrás apenas do Amazônia, com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados e representa uma área de 23,9% do território brasileiro, é o que aponta os dados aproximados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É importante destacar que o regime de chuvas e umidade no Cerrado pode sofrer grandes variações a depender da sub-região. As zonas mais próximas a Amazônia costumam ser mais úmidas e apresentar um maior índice de pluviosidade, chega a chover 1800 mm por ano. Já as zonas perto da divisa com a Caatinga apresentam clima árido e o nível de chuvas pode cair para 1.000 mm por ano.

Em alguns casos, os dados estatísticos podem não apresentar a previsão necessária para entender o real cenário do clima no Cerrado, pois leva em consideração apenas os dados acumulados ao longo de todo o ano, e não as particularidades e necessidades de cada período definido.

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