- Notícia

Novas vítimas denunciam vidente do DF que alegava ‘força maligna’ para atrair clientes

Após a prisão de uma vidente que agia com o filho e a nora para enganar clientes, em Brasília, novas denúncias chegaram à Polícia Civil do DF. Segundo o delegado João Ataliba, da 4ª DP, o trio que ficou conhecido como “videntes do amor” oferecia falsos serviços espirituais e exigia dinheiro, perfumes e bebidas com a promessa de fazer “trabalhos contra forças malignas e amarrações para o amor”.

Os três foram presos no dia 26 de maio passado. Conforme a polícia, a mulher mais velha comandava os golpes dizendo que “forças malignas agiam na vida dos clientes e que ela poderia desfazer o mal”. Os investigadores chegaram ao grupo por meio de uma mulher, de 47 anos, a primeira a denunciar a fraude.

Ao todo, nove vítimas recorreram à polícia que instaurou cinco novos inquéritos para apurar crimes de estelionato e extorsão.

Um servidor aposentado do Itamaraty foi um dos que procuraram a delegacia para relatar um prejuízo de R$ 200 mil

A vidente, o filho dela e a nora, estão usando tornozeleiras eletrônicas após serem liberados da prisão, durante audiência de custódia, ainda em maio.

Outras vítimas

De acordo com investigações da 4ª Delegacia de Polícia, entre abril e maio, uma mulher de 50 anos, e a filha, de 26 anos, também foram vítimas da vidente. Elas teriam sido procuradas pela golpista que se propôs a “desfazer um mal”, por meio de trabalhos espirituais que “afastariam forças malignas”.

Segundo a polícia, a mãe e filha acompanharam a vidente até a casa onde eram realizados os trabalhos, na QE 13 do Guará. “No local, a vidente pareceu passar mal e vomitou pedaços de substâncias vermelhas, que tinham a aparência de pedaços de fígado cru”, disse uma das vítimas, em depoimento.

“A vidente disse que o material expelido era parte do mal que acometia a mulher de 26 anos.”

Para realizar os “trabalhos de cura”, as vítimas pagaram R$ 1,8 mil. Mas, após o pagamento e a realização dos supostos trabalhos, a vidente continuou procurando a vítima.

Conforme a investigação, a golpista dizia que a mulher, de 26 anos, “ainda estava sendo ameaçada pelas entidades”. Para realizar novos “trabalhos”, ela pediu mais dinheiro, joias e peças de vestuário.

“Um tempo depois, a vidente começou a procurar a mãe da mulher de 26 anos. Ela alegava que os filhos dela corriam risco de vida por causa ‘de uma amarração’ feita para atingir a mulher de 50 anos”, aponta o inquérito policial.

“A vidente alegou que entidades matariam o filho da declarante com uma bala perdida e a filha morreria de câncer no estômago. Para ‘afastar o mal’, a cliente teria que pagar R$ 1,5 mil”, diz o inquérito.

A vítima contou que a vidente chegou a pedir uma camiseta do filho dela e, após apertá-la, a peça de roupa ficou vermelha. A golpista alegava que “seria isso que aconteceria com o rapaz, caso a declarante não pagasse pelo trabalho”.

Após desentendimentos com a vidente, a mulher de 50 anos, não pagou e alertou a filha. Após saberem da prisão da mulher, as duas também procuraram a polícia.

Uma outra família foi vítima da vidente em 2010, mas só registrou ocorrência em maio deste ano, após a prisão da golpista. De acordo com a polícia, um servidor aposentado do Itamaraty gastou R$ 200 mil pelo pagamento de “trabalhos”.

O caso começou quando a filha dele, de 18 anos, procurou a vidente após a indicação de amiga. A adolescente estava com depressão e problemas familiares. Na época, os pais da jovem moravam em Guaíra, no Paraná, e estavam passando férias em Brasília.

O primeiro encontro com a vidente aconteceu em uma casa no Park Way que, segundo a vítima, era onde a golpista morava em 2010. A mãe da jovem acompanhou a adolescente à “consulta”, que custou R$ 100.

“A vidente alegou que alguém teria feito um ‘trabalho’ para a jovem e para o resto da família, e pediu que elas voltassem depois de três dias.”

A mãe, a filha e o pai da jovem voltaram na data combinada. “Ao chegarem na casa, uma mulher que trabalhava para a vidente começou a simular a incorporação de um espírito que “queria vidas e sangue”, disse a família à polícia.

A vidente explicou que poderia encontrar a solução para o problema, mas, para isso eles, eles teriam que “oferecer um boi, uma galinha e outras vidas para a entidade”. Segundo a Polícia Civil, a jovem afirmou em depoimento que a família é “toda católica e se tornou muito fácil de enganar […] devido a falta de conhecimento e mexendo com o psicológico”.

Para realizar o trabalho, a vidente cobrou R$ 10 mil e pediu que eles retornassem após três dias para confirmar a execução do trabalho. Ao retornarem, a mulher disse que o trabalho havia dado certo, mas que precisaria ser repetido, mediante novo pagamento.

A família contou à polícia que a golpista chegou a ir na casa da família, no Paraná. Na viagem, ela levou o filho e uma mulher – que seria a nora, presa posteriormente.

“Pela terceira vez, a vidente simulou a incorporação de uma entidade. No entanto, disse que era necessário uma bacia de sangue de um boi preto, de uma raça específica, para que o trabalho fosse feito.”

Após a família questionar onde conseguiria o que estava sendo pedido, a vidente afirmou que, se o homem pagasse o valor do trabalho e do animal, “ela mesma resolveria o problema”. O pai da jovem deu o dinheiro para a mulher.

Um novo encontro com a golpista ocorreu em Brasília, “desta vez, em uma casa, no Guará” . A família pagou por um quarto “trabalho”, mas começou a perceber que era vítima de um golpe.

“A família não tem recibos, porque a vidente não fornecia. Além disso, os pagamentos eram feitos em depósito em diferentes contas”, explica a polícia. De acordo com delegado João Ataliba, o caso segue em investigação.

“Estamos esperando mais denúncias e que novas vítimas se pronunciem.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *